Seu Jorge vai além do samba em novo disco

Seu Jorge

Seu Jorge é um tipo raro de artista que transita com a mesma mobilidade entre o sofisticado e o popular, entre a periferia e a Zona Sul do Rio de Janeiro. Cantor de sucesso, ator com carreira internacional (já participou de 16 longas-metragens), e com história de vida comovente, o ex-líder da banda Farofa Carioca, que surfa em gêneros como samba, funk e MPB, é festejado também pela mídia e pelo mercado da música. É talentoso, tem carisma e dá retorno.

Seu Jorge deu mais uma "dentro" com o lançamento do segundo CD que faz parte da trilogia "Músicas Para Churrasco" (Universal Music), iniciada em 2011 com o álbum puxado por faixas como "A Doida" e "Amiga Da Minha Mulher".

Os desavisados que ouviram o "Músicas Para Churrasco Vol.2" , certamente ficaram com uma interrogação na cabeça. As canções, todas inéditas, quase nada tem a ver com o samba, gênero predominante nos últimos trabalhos do cantor. Os novos arranjos remetem à soul music nacional dos anos 70, com fortes influências de Gerson King Combo, Tim Maia, Carlos Dafé e Tony Bizarro. A única faixa do novo trabalho que flerta (de leve) com o samba é "Mina Feia" que começa com uma pegada black music e vai se transformando num samba rock arrastado.

As faixas de "Músicas Para Churrasco Vol.2" seguem uma espécie de roteiro que dá continuidade ao volume 1 da trilogia. "Trata-se de uma obra totalmente conceitual, na qual eu criei uma atmosfera quase que cinematográfica. A trilogia conta a história de uma vila, onde todo mundo se conhece e se reúne para fazer um churrasco", comentou Seu Jorge, que concebeu os personagens da trama através de canções. No volume 1, "nasceu" a "Amiga Da Minha Mulher", a "Doida" e o "Meu Parceiro". No mais recente, o artista apresenta a “Bipolar”, o "Motoboy" e a "Mina Feia". "Já estou compondo algumas canções (sozinho ou com parceiros como Gabriel Moura) para o volume 3. Tenho uma faixa pronta que fala sobre o cara que tá 'bebão' e 'vê' a chuva cair pra cima. Está bonecão do posto", diverte-se.

Como novidade, o álbum em fase de lançamento terá a distribuição em vinil, embora Seu Jorge não seja adepto da mídia. Apesar de entender a importância do bolachão em se tratando de benefícios sonoros e da excepcional qualidade gráfica da capa, o artista diverte-se dizendo que o produto só serve para ocupar espaço na estante. "Só os jornalistas e colecionadores gostam de vinis. Eles enchem a prateleira de LPs e ficam sentado na poltrona, olhando para a coleção, felizes da vida", brinca o cantor.

Atualmente morando em Los Angeles (EUA), Seu Jorge tem contato com um mercado muito diversificado de música, que ele acessa via streaming. O artista sabe da importância da música digital, mas mesmo assim ainda aposta no CD físico para divulgar seu trabalho. E justifica: "Apesar da minha música atingir o público A e os moderninhos, também tenho fãs nas classes menos abastadas. E, verdade seja dita, as regiões norte e nordeste têm pouco acesso à internet. Por isso ainda acredito na importância da mídia física. Mas tenho aproveitado para falar ao público sobre as ferramentas digitais – durante meus shows. Porém não adianta apenas catequizar o consumidor. O governo precisa prestar atenção nisso e oferecer condições para termos uma banda larga acessível e de qualidade", completa ele.

No Brasil, Seu Jorge costuma se apresentar nas principais capitais e seus shows normalmente acontecem em casas voltadas ao público com melhor poder aquisitivo. Embora tenha nascido em uma favela da Baixada Fluminense (Rio de Janeiro), o cantor não se apresenta há muito tempo em uma comunidade carente. Mas não é por preconceito. Ele tem suas razões e afirma que foi muito difícil ser catapultado do gueto para o mundo. "Não toco em favela. Custei muito a sair de lá. Cansei de levar porrada de policial, de viver num lugar com esgoto a céu aberto. As pessoas podem ser felizes lá por causa das relações que criam, da família. Mas não é bom morar em favela. Não toco porque não quero dar tapinha nas costas de traficante e de miliciano. Tocaria numa comunidade pacificada, mas nunca fui convidado", diz, sem papas na língua.

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